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Entre parênteses (o desespero)

Posted by G. on 18:03

Não é uma coisa que eu queria (ou possa) admitir. Mas é bem mais forte que eu. É tão poderoso (e vergonhoso) que tenho medo de falar em voz alta (até de pensar). Só que se eu continuar em silêncio, remoendo isso no escuro (e na solidão), sei que vai me machucar demais (pode até matar). Por isso escrevo (escondida), para me libertar desses pensamentos, para exorcizar você de mim (tolo engano).

Falta pouco para aquela data (tão maldita!). Queria eu declarar que esse dia foi abolido de todos os calendários do mundo (principalmente do meu) e que dia 24 vai direto para o dia 26. Porém, se não consigo sequer controlar minha mente (meu coração se for ser sincera), quem dirá o tempo?

E agora, me dispo. De todo meu pudor (do meu orgulho) e declaro o que se passa por detrás dos meus olhos entristecidos (tantas vezes marejados). Queria que você aparecesse do nada no dia que fica entre o 24 e 26. Não importa quanto tempo não nos falemos (quanto tempo? Tanto que já não sei mais, poderia ser um século ou duas semanas, a dor é igual), nem sei como você está, se é o mesmo, se mudou, não importa. Eu estaria sentada nessa mesma mesa, daí ouviria a campainha. Abriria a porta (sem sequer ver quem toca) e lá estaria seu rosto cansado (eu sei que a viagem é longa), mas haveria um sorriso ligeiramente aliviado (enfim você estaria na minha porta). Eu, eu não ficaria sem ação (como sempre fiquei), não gastaria tempo com palavras (como eu também sempre fiz). Pularia nos teus braços, te encheria de beijos (agora sim, como eu nunca consegui fazer) e te puxaria para dentro de casa, ainda agarrada a você, com a ilusão (que já não me engana mais) que assim você não me deixaria jamais. Quando me faltasse o ar, eu finalmente seguraria tuas mãos (que me fazem falta) e olharia para os teus olhos (aquela tarde eu não pude, não pude...) e aí eu diria:

_ Não quer saber por que você veio, não quero saber se você volta depois, o que importa é que você está aqui hoje. Hoje.

Você ficaria embaraçado, tentaria falar novamente, viria com explicações (as que você me deve a tanto) e eu te calaria, finalmente te beijaria com paixão (e tranqüilidade). As explicações, deixe-as, não as quero mais, para quê (só me farão lembrar tudo que deve ser enterrado, as lágrimas que me afogaram, da solidão que me envenenou)? Arrastaria seu ser para o calor do quarto, para perto do meu corpo e mais e mais perto... até que cairíamos no sono (e você já não fosse mais sonho). No dia seguinte, seriam teus braços (e não o frio travesseiro) que eu abraçaria e eu te diria no ouvido:

_ Não me importo com mais nada, faz do teu jeito, me resta o consolo e alegria de saber que depois da boêmia, é de mim que você gosta mais.

Mas você não vai aparecer (ainda sabe meu telefone? Sei que o endereço não). E pior, no seu calendário existirá o 25 de Setembro: dia Nacional do Trânsito. E só.


G.


2 Comments


Parabéns...

muito bom o conto, muito bem escrito e ainda com uma sensação de deja-vu absurda...

Oleno


Nossa! Perfeito demais! Impressionante!

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